Intercâmbio de conhecimento fomenta ecossistema brasileiro de startups de saúde

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23/01/2024 17h29

Troca de informações entre startups de diferentes países e culturas tem potencial de impulsionar mercado nacional e o desenvolvimento de novas soluções.

A possibilidade de romper as fronteiras físicas na ciência sempre abriu uma gama de oportunidades de desenvolvimento. Isso porque o intercâmbio de experiências e conhecimento entre culturas e estágios de maturidade diferentes permite que um mesmo problema receba soluções a partir de distintos pontos de vista. No ambiente de startups, essa característica é especialmente valiosa: uma vez que as empresas buscam desenvolver e testar suas teses de forma rápida – até mesmo para aprender com os erros e fazer ajustes de rota rapidamente –, quanto mais rica for a troca de informações, maiores as chances de êxito e de ganhos de eficiência nesse processo.

É um movimento que tem se intensificado no Brasil. “Quando trazemos empresas internacionais para conviverem com as nossas startups, trazemos também uma grande bagagem de conhecimento, pois eles geralmente vêm de um ambiente onde a cultura de empreendedorismo e inovação é muito forte. Vêm de países que enxergam na inovação um diferencial competitivo”, afirma Camila Hernandes, gerente de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein e head da Eretz.bio, hub de startups do hospital que fomenta o desenvolvimento de novas tecnologias através do apoio e parceria com startups voltadas para a saúde.

Como parte dos esforços para colocar o Brasil como um dos protagonistas no desenvolvimento tecnológico em saúde, a Eretz.bio tem reforçado o intercâmbio de conhecimento e tecnologias no seu ecossistema por meio da expansão de projetos internacionais.

“É uma troca muito rica. De um lado, as startups nacionais têm a oportunidade de entender como funcionam outros sistemas de saúde e o mercado de venture capital global, e isso é importante porque queremos que essas empresas desenvolvam tecnologias para o mundo todo. De outro, as empresas internacionais recebem todo o apoio para validar suas tecnologias em uma infraestrutura de ponta, com dedicação de especialistas multidisciplinares. Validar tecnologias em um ambiente real, com foco em excelência e segurança, preparado para esse tipo de validação, acelera muito a chegada da tecnologia ao destino final: os pacientes”. diz Hernandes, que é PhD em biotecnologia.

A Eretz.bio realiza parcerias com outros países desde 2018, mas recentemente deu um novo passo ao desenvolver um programa para receber startups estrangeiras – no começo de 2024, ela anunciou a chegada da Oncobiomed e da Cardionomous, do Chile, da Pannex Therapeutics, dos Estados Unidos, da Pangea Botanica, do Reino Unido, e da Radbio, da Argentina. Ao todo, são cerca de 50 projetos em andamento com startups internacionais atualmente, divididos em três pilares: biotecnologia, saúde digital e equipamentos médicos.

“Cada vez o número de startups internacionais que interagem conosco é maior, e agora consolidamos o programa de aceleração, porque além de confiarem no nosso trabalho como um potencial parceiro de validação e incorporação de tecnologia, as empresas passaram a acreditar no Einstein como um parceiro para o para o avanço de suas empresas como um todo, e no Brasil, como um país em potencial para trazerem suas tecnologias. Isso é muito positivo”, afirma.

Para o futuro, ela acredita que cada vez mais as barreiras geográficas serão eliminadas para alcançar, de fato, a saúde sem fronteiras: “A ideia de que uma tecnologia exista apenas em um ou outro país será superada.”

Intercâmbio pode ser atalho, mas há desafios

Intensificar esse processo de intercâmbio de informações e experiências pode acelerar o desenvolvimento do mercado brasileiro de startups. E este é um ambiente com muito potencial. Segundo dados da Associação Brasileira de Startup (ABStartup), no Brasil há cerca de 12,7 mil startups e o segmento de saúde figura entre as três principais categorias de investimento. Embora o número ainda seja tímido perto de grandes potências já consolidadas, como os Estados Unidos, o país vem chamando a atenção de investidores nos últimos anos.

Em 2023, a primeira edição do Web Summit Rio – braço de um dos principais eventos de inovação e tecnologia do mundo – destacou que o Brasil é “provavelmente o país de startups mais próspero do mundo atualmente”, enquanto o HealthTech Report 2023, do Distrito (plataforma de fomento ao ecossistema de inovação a América Latina), apontou que 61,7% das startups da América Latina estão concentradas no país.

“O Brasil tem muito potencial para investimento e desenvolvimento de novas tecnologias”, avalia Hernandes. “Temos uma população super heterogênea, um país continental, com a maior biodiversidade do mundo, culturalmente diversificado, com uma agência reguladora madura, ambientes de validação, desenvolvimento tecnológico e de negócios estabelecidos, capital humano que inclusive têm sido absorvido por empresas de fora. É uma riqueza muito grande que deve ser valorizada.”

Mesmo com o crescimento das startups em saúde e os olhares voltados para o desenvolvimento tecnológico cada vez mais acelerado, ainda há algumas ressalvas por parte de players mais conservadores. Apesar de a maioria das startups mapeadas no país ter um modelo de negócios baseado em B2B, o mapeamento da ABStartup mostrou que apenas 7,7% do investimento recebido pelas startups brasileiras veio de Corporate Venture Capital, quando uma empresa ou corporação já estabelecida investe em negócios emergentes.

O receio de estar em um ambiente passível de erros – algo natural na atmosfera de startups – é o maior desafio no âmbito de parcerias entre esses diferentes atores do setor de saúde. “Qualquer empresa que esteja desenvolvendo um novo produto vai passar por desafios. Para aquilo ser aprovado no final do dia, é preciso passar por testes, ver se funciona de fato, pode ou não dar certo, e esse é o ambiente de inovação. Esses players precisam entender e confiar no processo”, afirma Hernandes.

Para a PhD em biotecnologia, as startups trazem uma série de pontos positivos que às vezes uma grande corporação não tem, como a possibilidade de focar em apenas um determinado produto – já que uma instituição maior costuma focar em muitas coisas ao mesmo tempo. “É preciso entender que vão existir erros, mas é natural que isso aconteça. É justamente nisso que as grandes corporações podem ajudar, porque possuem estrutura para mitigar esses riscos. É um modelo de parceria muito rico e nós temos melhorado no Brasil. É um caminho sem volta”, afirma.

Equidade no acesso faz parte do debate

Junto com as inovações tecnológicas, surge outro debate cada vez mais presente na saúde: a equidade. A especialista ressalta que, embora alguns pontos ainda exijam atenção, como legislações de importação, o incentivo ao empreendedorismo local também é uma ferramenta para viabilizar o acesso.

Ela destaca que essa nova etapa do projeto da Eretz.bio de acelerar startups estrangeiras tem como objetivo apoiar o desenvolvimento do ecossistema de saúde brasileiro e agora passa a olhar para empresas internacionais também, porque dependendo do tipo de tecnologia, o Brasil não é a primeira escolha dessas empresas. “O resultado é que muitas tecnologias que já estão disponíveis nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, demoram anos para chegar aqui. Garantir o acesso da população brasileira a essas tecnologias faz parte do nosso propósito”, ressalta.

Outra característica valorizada pelo intercâmbio de conhecimento é o foco na multidisciplinaridade. Não é de hoje que a criação de soluções de saúde deixou de ser da alçada exclusiva de empresas do setor, e esse movimento tem mostrado resultados positivos. A ideia é que pesquisadores e especialistas dos mais diferentes backgrounds – saúde, tecnologia, biotecnologia, farmácia, entre outros – sentem à mesa juntos para desenvolver alternativas que sejam de fato inovadoras e, mais do que isso, que funcionem na prática.

Hernandes cita uma solução para a jornada do paciente desenvolvida pela Eretz.bio. Ela destaca que, uma vez que o paciente passa por diversos profissionais ao longo da sua visita em uma instituição de saúde, essa mentalidade deve estar presente no momento de desenhar uma nova solução.

“Você tem uma série de pessoas conectadas dentro de um sistema de saúde. No desenvolvimento tecnológico não é diferente”, explica. “Quando temos diferentes profissionais assessorando a startup, temos também olhares distintos sobre o mesmo problema, o que melhora essa jornada não apenas para o paciente como todos os outros agentes envolvidos no cuidado e que vão lidar com essa tecnologia.”

Texto: Futuro da Saúde

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